Desde que li a notícia no Uol de que a Redação da prova do ENEM desse domingo teve como tema as "redes sociais", mais especificamente, "Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado", não sosseguei enquanto não parei na frente do computador e comecei a escrever esse post, que aliás, já estava na pauta, só fiz adiantar sua publicação!
Imediatamente, lembrei de uma entrevista que o Professor José Armando Valente* (autor central da minha monografia) deu para o site IG em março desse ano (salvei em favoritos): "Educador quer redes sociais no currícilo escolar", com destaque para o seguinte trecho:"As ferramentas de redes sociais devem ser usadas como práticas pedagógicas, de forma integrada ao currículo. Não adianta só acessar a rede dentro da escola, sem uma proposta. Tem que ter alguém olhando e orientando, verificando se os alunos estão gerando conteúdo de fundamento, se tem um conceito sendo trabalhado. Se não tiver alguém orientando, não é pedagógico." Leia a entrevista na íntegra aqui.
Sou Orientadora Tecnológica do Laboratório de Informática Educativa de uma escola pública e lá os alunos não podem acessar as redes sociais, por inúmeras razões, mas ultimamente tenho questionado muito essa "proibição". O que venho aprendendo ao longo da minha pesquisa é que as redes sociais não inimigas do professor, podemos tirar proveito delas de várias maneiras, como ressalta Valente: "Brincar no Twitter gera um conteúdo de síntese muito grande. O professor de português poderia usar essa atividade para treinar o resumo de ideias com os alunos. Mas não é o que ocorre. Os jovens usam a ferramenta, mas o professor não intervém, não questiona o que eles fazem."
Ouço muitas pessoas dizerem que que não compreendem a dinâmica do Twitter, isso porque não fazem uso "correto" dessa ferramenta. Vou tentar explicar: eu tenho um perfil pessoal onde a temática predominante são questões relacionadas à maternidade, mas isso não impede que o tema educação entre na pauta, afinal sou professora e mãe e essas coisas inevitavelmente se misturam! Mas esse não seria o perfil mais adequado para interagir com meus alunos, com amigos professores ou com simpatizantes do tema educação. Na minha avaliação de usuária, o Twitter, por ser bem mais dinâmico que outras redes sociais e por possibilitar a criação de vários perfis (pessoal, profissional...) te dá maior poder de comunicação e transmite a informação de forma mais democrática possível (você só clica no link se quiser). Sem deixar esquecer que para fazer um bom uso de qualquer rede social como ferramenta pedagógica é necessário que haja coerência entre o que você escreve e pra quem você escreve. (mas lembre-se, isso é uma opinião pessoal!)
Agora eu me pergunto: se muitos professores fazem uso das redes sociais e quase todos seus alunos também, por que essa relação virtual ainda encontra-se limitada a "curtir" e comentar fotos pessoais, a trocar piadinhas desrespeitosas e a fazer reclamações da aula, da prova ou da nota, por exemplo? Eu não estou criticando o uso que cada um faz do seu Twitter ou do seu Facebook, tirando as piadinhas desrespeitosas, faço direto as outras duas! Mas acredito que seja importante e ao mesmo tempo desafiador ir além dessa relação virtual fora do contexto da escola ou da sala de aula. É preciso que a escola deixe de excluir as "redes sociais" em geral e busque fazer com que tenham valor pedagógico real, afinal estamos educando "leitores digitais"! Não podemos passar uma borracha nesse conhecimento que o aluno aprende no seu cotidiano fora do escolar. Esse aluno, que está na minha sala de aula e na sua também, está cada vez mais se distanciando da "era do lápis e papel" e cada vez mais próximo da "era digital" e você, professor, onde realmente está?
*José Armando Valente é pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Unicamp, professor do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação do Instituto de Artes da Unicamp e pesquisador colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, da PUC-SP.